segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Meu pai


Meu pai não é aquele pai de propaganda de margarina, aquele que é bem humorado, sorridente, que abraça os filhos e diz eu te amo. Sempre foi um pessoa difícil de lidar, mal humorado, arrogante e orgulhoso. Claro que ele tem pontos positivos, é o cara mais generoso que já conheci. 
Acho que na cabeça dele o mais importante era prover financeiramente a família, já o carinho, a conversa e o afeto, ele deixava por conta da minha mãe.
Sou uma filha carente de carinho de pai, e acho que meus irmãos também.
Meu pai nunca bateu na esposa e nos filhos, mas de certa forma, ele usou bem a violência psicológica. Nunca teve jeito pra conversar com os filhos, a última palavra era sempre dele.
Lembro do meu pai implicar com os meus amigos quando iam lá em casa, de dar bronca de forma grosseira, de deixar os filhos com frio na barriga, com medo de passar vergonha na frente dos amigos. Hoje, ainda que tente, não consigo entender porque ele fazia isso.
Durante muito tempo, mascarei o pai que tinha, imaginava que ele era o melhor pai do mundo, contava histórias de um pai legal, mas que nunca existiu. Não acho que os pais tenham que ser perfeitos, não mesmo. Mas acho que os pais têm a obrigação de tentar ser uma referência para os filhos, de fazê-los felizes.
Agora o meu pai está doente e vivo um misto de dor e raiva. Dor porque é o pai que tenho, com todos os defeitos, ele é o meu pai e ninguém poderá substituí-lo. Mas a raiva vem da piora no comportamento dele, que maltrata a minha mãe, meus irmãos e meus sobrinhos. É capaz de descontar toda a sua amargura e frustração em sua própria família. Diz coisas terríveis para todos, humilha e torna o convívio com ele cada vez pior. Não sei se fico mais triste com o fato dele estar morrendo, ou com o fato de ele tornar a vida da família dele um inferno. É uma dor estranha, não sei explicar... não sei mesmo.



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